sábado, 26 de dezembro de 2009

Conto - Fragmento de Batalha

O que seria de uma parceria de dois experientes guerreiros: uma meia-elfa e um humano contra um exército de orcs?


Na batalha que se seguia ali, nos campos agora congelados pelo inverno da província do reino de Eleanor, apenas sobrara um humano e uma meio-elfa para protegerem um vilarejo e seus povos, enquanto do outro havia mais de cem orcs lutando em prol de um único objetivo: dizimar o nome do vilarejo e conquistar mais um pedaço da boa terra e água límpida daquela nação. Para profanar com a podridão que sempre os acompanha e trazer o machado e o fogo para as belas árvores das bem cuidadas florestas élficas daquele reino.
Uma batalha que começara em salões, entre discussões regadas a vinho, muito mulso e ouro. Entre desejos de poder e ambição. E que agora terminava banhando a neve de um branco puro, com o sangue de valorosos guerreiros que defendiam suas moradas, suas famílias e suas crenças.

O fim se aproxima...

- Vá embora! Corra enquanto lhe faço ganhar tempo. Não é hora para se ter heroísmo tolo. – a guerreira meio-elfa de nome Suelfelin, proferia aquelas palavras enquanto desviava dos ataques de um fétido orc e com grande maestria e elegância golpeava-o com sua fina espada. Não uma espada qualquer, mas um presente de sua mãe. Um item passado de geração a geração entre as guerreiras de sua família. A espada de nome Firaldoren, temida entre muitos e conquistadora de feitios valorosos na defesa dentro e fora daquelas terras. Adornada de runas élficas em sua lâmina, forjada pelo escasso e rico aço da Montanha de Vuart, que a muito fora esquecida pelos povos.


- Não posso deixá-la! Tanto eu como você, estamos cansados e feridos. Não poderíamos ir tão longe. O inimigo possui cavalos rápidos e lanças longas. O meu lugar é ficar aqui ao teu lado e honrar da melhor maneira aqueles que deram as vidas que possuíam e que não possuíam pelo o que acreditavam. - Quem proferia aquelas palavras agora era Ardor, um humano rústico em seus modos, mas temido por qualquer inimigo que ouvisse seu nome no campo de batalha ou avistasse sua reluzente armadura de cor vermelha escura, ao qual nunca tirava. Esta era vista como amaldiçoada, pois diziam que o sangue de seus inimigos que a tingira desta cor. Suas mãos seguravam com bastante firmeza a desproporcional espada que golpeava aqueles que entrassem em seu campo de ação. Fazia o máximo para se impor entre Suelfelin e seus algozes. Apesar de saber o quanto a guerreira era capaz.

Por um instante ele se esqueceu do combate e olhou para a meia-elfa mais uma vez. E viu que ela bailava no ar, desferindo sucessivos golpes aos seus oponentes. Com leve armadura a valorizar a forma e curvas de seu corpo atlético, tornava sua beleza incomum no calor da luta, digna de apreciação de qualquer Deus. Dona de olhos verdes, de brilho único e sagaz. Cabelo loiro, que balançava ao menor de seus movimentos e davam ar de leveza em seus golpes. Uma cena desejada de se ver por qualquer um, apesar de não ser o palco pretendido por muitos para lhe verem “atuar”.

Mas seus olhos voltaram e mente voltaram a se concentrar na batalha e viu que os últimos orcs daquele batalhão cessaram os ataques e os que sobraram se reuniam para uma última investida. Aproveitando-se do pouco tempo que ganharam, Suelfelin e Ardor procuraram abrigo nas enormes rochas que serviam como uma muralha ao vilarejo, para fazerem um último descanso.

Após tomar uma posição a salvo das flechas do inimigo, a guerreira retornou a palavra:

- Não acredite nas feições que meu corpo demonstra aqui. Minha alma se encontra viva e inabalável. O ódio queima dentro de mim. Eu poderia enfrentar duas, três, quatro vezes mais o exército que se encontra aqui. E no final, o fogo da batalha me consumiria por inteira e viraria um espírito da guerra, clamando por um bom combate. Mas lhe digo. Se ainda sobrou alguma sabedoria em sua cabeça, utilizai agora e percorra as “trilhas ocultas” que aprendeu com meu povo, onde a floresta se torna extensão do seu corpo e as pedras camuflam e lhe protegem do inimigo. Vá e conte aos outros que ainda resta um do meu povo a lutar por nós. Que não há exército que apague a valorosa existência de uma guerreira da nação de Eleanor. Seja rápido. Vá antes que o inimigo faça seu martelo bater mais forte, pois agora eles se reagrupam para o que acredito ser, um último ataque.

- Tola e corajosa Suelfelin. Não aprendeste nada neste pequeno tempo que por muitas jornadas e campos de batalha passamos juntos?! Quando seu escudo defendia era minha espada que golpeava. No meu descanso da batalha, era sua lança que protegia nossas fronteiras. Não deves querer que eu parta agora, pois seria uma afronta a mim pelas vezes que servir ao seu lado. – ainda ofegante por causa do cansativo e longo combate, o guerreiro debruçou seus braços se apoiando na sua espada e tomando fôlego continuou:

- Talvez eu não passe de hoje, é verdade. Mas quero deixar a marca de minha existência gravada na pele de cada um que ousar pisar em nossa relva. Que queira beber nossa água. Brandiremos nossas armas, e a de custar caro àqueles que se atreverem a desfrutar daquilo que conquistamos com grande suor junto ao nosso povo.

- Velho Ardor. Suas palavras me confortam e me faz lembrar de tempos que estivemos em situações parecidas. Mas hoje talvez seja diferente. Você não possui a mesma juventude de antes. Seus músculos não obedecem como antigamente. O tempo talvez fosse o maior inimigo que carregou pela vida inteira. O sangue mestiço que corre em mim pode alongar meus dias nesta terra por mais algum tempo. Mas você não pode gozar deste benefício ou maldição.

As palavras se fizeram cortantes como uma lâmina no coração de Ardor. Mas ele sabia que havia verdade nelas. Seus braços encontravam-se cansados de manejar o pedaço de metal que cortava o ar e acabava se fundindo com a carne do inimigo. E o cheiro de sangue que por mais que se lavasse, ainda ficava em seu corpo. Agora lhe deixava em um estado nauseante. “Você cheira sangue”, os outros diziam. E sua visão por agora ameaçava falhar. Mas ele não podia se entregar.


- Tens verdade em suas palavras. O fôlego que antes me fora atribuído, agora não o possuo. Mas a coisas mais importantes agora do que meu estado. Fiz uma promessa a um amigo. Trata-se de nunca deixar a filha dele correr perigo, e devo honrar esta promessa que fiz em seu leito de morte. Foi-me confiada uma visão do futuro por uma velha. Eu não sou de acreditar nestas coisas. Mas ela dizia que não será no campo de batalha que seu corpo cairá. Devo fazer isto valer-se. Eu não posso perder o pouco que tenho, e este pouco é minha honra.


- Promessa tola você fez. Ninguém possui poder em cima da vida dos outros meu caro Ardor. A não ser os Deuses. E estes raramente interferem no destino dos outros. Apenas ficam a assistir as coisas dos reinos que governam. Mas que seja. Que os “Seis Grandes” reservem um lugar de honra para nossos espíritos e que a terra delicie-se com nossos corpos. Será ao teu lado, de bom grado que lutarei o que acho minha última batalha. Talvez maior honra que esta eu nunca tenha tido.

Uma corneta de som rústico e cavernoso se fez tocar naqueles campos. Era o sinal para a última investida orc. Suelfelin logo se pôs em guarda e Ardor com dificuldade apoiou-se em sua espada, erguendo-se da pedra onde estava escorado.

Por um momento ele fechou os olhos e manteve a cabeça baixa. Seus pensamentos lhe levaram até sua infância. A família que um dia teve. Em especial a irmã mais nova que sempre buscava abrigo em seus braços.

- Por que você me faz lembrar tanto ela Suelfelin?

- O que disse Ardor? – a meia-elfa franziu o semblante denunciando não ter entendido o que o guerreiro dizia.

Mas já era tarde. O sangue da armadura ganhava vida e em forma de várias faixas viscosas entrelaçava o pescoço do guerreio e cobria seu rosto, formando peculiar elmo. Apenas os olhos se viam e eles possuíam um brilho vermelho, mórbido. Ele voltou sua cabeça na direção da meia-elfa e após algum tempo lhe contemplando, uma voz nova se projetou na mente de Suelfelin:

“Não vamos morrer. Lendas nunca morrem.” – O guerreiro que sempre segurava a grotesca espada com ambas as mãos, com apenas uma ergueu-a no ar e partir em velocidade em cima de seus inimigos.

1 comentários:

Anônimo 26 de dezembro de 2009 às 12:59  

Mto legal velho! Curti demais mesmo...

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